Para muitos, é o melhor filme sobre o herói aracnídeo já realizado. Outros vão além, considerando ‘Homem-Aranha no Aranhaverso’ o melhor longa-metragem sobre super-heróis já feito. Sucesso de público e crítica, a animação da Marvel venceu recentemente o Globo de Ouro e o Critics Choice, tornando-se grande favorita também ao Oscar da categoria (os indicados saem nesta terça, 22).
Tamanho sucesso vem ofuscando outra bela animação em cartaz. ‘WiFi Ralph: Quebrando a Internet’, da Disney, é a sequência (superior) de ‘Detona Ralph’ (2012). Como o título indica, Ralph agora é levado a explorar a internet, em busca de um determinado objeto que deve evitar com que o jogo de sua grande amiga, Vanellope, seja permanentemente desligado. Se na aventura anterior as ações são centradas nos cenários de diversos videogames, com a rede mundial de computadores um universo inteiro se abre diante do protagonista.
Falando em universo, a inovação técnica e artística de ‘Aranhaverso’ é incontestável. Aliando composições em 3D com outras elaboradas no modo clássico de duas dimensões, o desenho também faz uso brilhante da metalinguagem entre cinema e as histórias em quadrinhos que o inspiram. Além das manjadas onomatopéias gráficas (como na abertura do antigo seriado ‘Batman’, dos anos 60) e das caixas de inscrições nos extremos da tela, tal qual nas HQs, é possível notar, nos planos mais aproximados (closes), a textura típica das páginas em papel de revistas em quadrinhos.
Já ‘WiFi Ralph’ cativa pela sagacidade das associações e metáforas baseadas nos termos, procedimentos e macetes relativos à internet. A personificação dos irritantes “pop-ups”, os sites de leilão online como grandes shoppings da cidade internética, a altura dos prédios dessa metrópole alegórica correspondendo ao valor de mercado das empresas que representam (sendo o Google o maior desses edifícios), são alguns exemplos. Os personagens de games clássicos que agraciaram ‘Detona Ralph’, nesta sequência dão lugar a ícones – dos mais antigos aos recém-adquiridos – do universo Disney. Durante a visita de Ralph e Vanellope ao site da gigante do entretenimento, o encontro com as princesas nos arranca lágrimas de tanto gargalhar.
Com uma edição extremamente ágil e “movimentos de câmera” dinâmicos e equilibrados, ‘Aranhaverso’ trata do encontro acidental entre diferentes versões do Homem-Aranha, que existem paralelamente em outras dimensões. É esta a grande e genial proposta metalinguística do roteiro: juntar todas as variações do personagem já lançadas desde a sua criação, apresentando como protagonista o adolescente Miles Morales. De pai negro e mãe hispânica, Miles será o descendente de imigrantes latinos que salvará New York de uma catástrofe interdimensional. A mensagem é bem clara e evoca o que Stan Lee sempre dizia: todos nós podemos ser super-heróis.
Não bastasse a diversão em alto nível proporcionada a todas as faixas etárias, ‘WiFi Ralph’ é notável, ainda, pelas sutis reflexões que traz acerca dos males causados pela internet. Do consumismo viciante ao narcisismo exacerbado, a contínua permuta de afetos, a exploração comercial desse jogo de curtidas e visualizações, que têm como objetivo último a viralização de algo tão efêmero e banal quanto uma noite de sono mal-dormida.
Conclusão: entre ‘Aranhaverso’ e ‘WiFi Ralph’, que o leitor não se veja obrigado a escolher apenas um para conferir. Nenhum deles merece ser ignorado. O que têm de mais comum? Stan Lee aparece nos dois, e ambos contém cenas pós-créditos (duas em cada, por sinal).
WiFi Ralph: Quebrando a Internet (Ralph Breaks the Internet) – EUA, 112 min, 2018 Dir.: Phil Johnston e Rich Moore – Estreou em 3/1. Homem-Aranha no Aranhaverso (Spider-Man into Spider-Verse) – EUA, 117 min, 2018 Dir.: Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman – Estreou em 10/1. Assista aos trailers:
