O que você faria se estivesse no limite e sem esperanças de melhorar de vida? Essa e outras questões relacionadas à falência de sistemas econômicos e filosóficos são abordadas na nova montagem do grupo Cemitério de Automóveis, dirigida por Mário Bortolotto. A peça inédita no Brasil ‘Gagarin Way’, do dramaturgo escocês Gregory Burke, fica em cartaz entre os dias 8 e 18 de dezembro, na sede da companhia localizada na Bela Vista, em São Paulo.
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A história é ambientada em um local que foi conhecido como “Pequena Moscou” no passado, por conta do seu radicalismo político. No entanto, após a queda do Muro de Berlim e do desaparecimento das minas de carvão, a área passou a ser dominada pelo capitalismo e a enfrentar uma grave crise que se prolonga até hoje. “Foram o ritmo dos diálogos e o tema da falta de perspectivas de pessoas do meio operário que me fizeram querer montar esse texto”, conta Bortolotto, que também está em cena.
Ainda estão no elenco Carcarah, Daniel Sato e Nelson Peres. A iluminação é de Caetano Vilela, a cenografia e cenotécnica são de Mariko Ogawa e Seiji Ogawa. Já o figurino é assinado por Vanessa Deborah.
Na trama, Gary é um operário cansado e deprimido. Pai de três filhos, afundado em um casamento fracassado e com ideais socialistas, ele quer mandar uma mensagem para o sistema. Por isso, decide sequestrar Frank, um membro da alta administração, com a ajuda de seu amigo Eddie, um niilista violento, cujo único interesse é causar encrenca.
A dupla leva o industrial para a fábrica de computadores onde trabalha o segurança Tom, um jovem ingênuo recém-formado em política que acredita ser possível juntar capitalismo com socialismo. Outra importante discussão suscitada pelo espetáculo é se todo ato político é justificado ou se existe uma linha que não deve ser ultrapassada. E toda a narrativa é permeada por humor ácido, característica bastante presente nas montagens do grupo Cemitério de Automóveis.
“O texto de Gregory Burke não tem nenhuma condescendência com seus personagens e expõe uma visão crua de homens desesperançados e amargos que não encontram motivos para ter qualquer vislumbre de futuro. A exceção talvez seja o garoto Tom, mas suas esperanças acabam implacavelmente esmagadas pelos sequestradores e até mesmo pelo sequestrado, que se mostra ainda mais desiludido e desesperançado do que os seus algozes”, detalha Bortolotto.
Mesmo com as distâncias geográfica e cultural, é possível traçar paralelos entre o contexto de “Gagarin Way”, escrito em 2001, e o Brasil de hoje. “A peça é escocesa, mas discute questões universais. Nosso país está dividido, como foi possível constatar na última eleição, em que resvalamos na possibilidade de cair em um sistema de autocracia muito perigoso, depois de 21 anos de ditadura militar e de lutas muito ferrenhas para que consigamos manter a nação com as liberdades democráticas conquistadas”, acrescenta.
O dramaturgo Gregory Burke nasceu em 1968 e, até ser aclamado como um grande dramaturgo, alternava-se entre vários empregos de meio período para poder ter tempo de escrever. “Gagarin Way” foi sua primeira peça e logo se tornou um grande sucesso. A primeira montagem estreou em 2001, em Edimburgo e teve uma excelente repercussão. O trabalho ganhou prêmios no Scotsman Fringe First of the Firsts, em 2001, e, em 2002, no Meyer/Whitworth e no Critics’ Circle Award.
SERVIÇO
Espetáculo “Gagarin Way”
Onde: Cemitério de Automóveis
Endereço: Rua Francisca Miquelina, 155, Bela Vista – São Paulo
Quando: 8 a 18 de dezembro
Horário: quinta a sábado, às 21h, e aos domingos, às 20h
Quanto: R$ 40 (inteira) R$ 20 (meia)
Classificação etária: 16 anos
Duração: 90 minutos
Informações: através do site