“Flua” é um espetáculo cênico para bebês de 0 a 3 anos, criado pela artista e educadora Bruna Paiva, que propõe um convite à experimentação de materialidades maleáveis em um espaço flexível às interações espontâneas entre performer, bebês e suas famílias. Em sessões intimistas, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, em São Paulo, agrega linguagens contemporâneas em um ambiente acolhedor para que o público literalmente possa entrar na cena e interagir com os elementos cênicos, partilhando múltiplas narrativas e inventando diferentes paisagens junto com performers da luz, do corpo e do som.
A cada cena, a mistura entre as partes e o todo possibilita a criação de imagens efêmeras que promovem conexão com o feminino, com o nascimento e com outras forças arquetípicas que transbordam em cada participante durante o ato criativo. Uma experiência sensorial, de convívio entre diferentes corpos e de percepção de um espaço em transformação contínua.
Em “Flua”, a história que queremos contar é sobre a impermanência, sobre a capacidade humana de permear-se pelos instantes e deixar-se levar pelos encontros. Tal qual uma dança, o espetáculo “Flua” é uma experiência para se perceber que a vida é esse lugar das incertezas. Por isso, é um espetáculo em que as cenas não estão rígidas ou previamente determinadas por um roteiro, pois se entende que o enredo dessa história sobre a fluidez também pode ser contada pelo modo como se vivencia o espetáculo, principalmente quando se trata do público da primeiríssima infância, sensível às forças estéticas.
É importante mencionar que “Flua” é um espetáculo in progress, ou seja, um espetáculo poroso a adaptações dramatúrgicas que se fazem ao longo das trocas entre performers e público em cada experiência de encontro, que deixam memórias e vão apontando hipóteses para novas construções cênicas no por vir. Desamarra-se, portanto, a rigidez de uma dramaturgia constituída a priori, já que para experimentarmos a deshierarquização das relações com bebês é importante provar o estado de “novidade”, “receptividade” e “improviso” que só se faz na escuta e na relação genuína com os corpos presentes nos instantes dos encontros.
Grande parte do impulso para se criar “Flua” teve a ver com os reflexos da pandemia, pois com o isolamento social e com as relações mais distantes, a rigidez na coreografia dos encontros se fez ainda mais presente, prejudicando ainda mais a qualidade da presença e espontaneidade nos encontros em sociedade. O corpo dos adultos passou a ficar condicionado pelo controle das máscaras e da higienização, trazendo uma série de tensões que naturalmente são repassadas aos seres recém chegados ao mundo. Deste modo, “Flua” traz a oportunidade de reconexão com o feminino, que traz o chamado para a possibilidade de receber e interagir com aquilo que se apresenta, sem antecipar ou ditar o que há de vir.
Por fim, permeado por aquilo que se sente e aquilo que é gerado junto com o outro, “Flua” nasce para que o público e performers interajam a partir da mediação de um terceiro elemento feito de uma materialidade porosa e maleável, que é manipulada e brincada por todas as pessoas ali presentes, a fim de criar um lugar comum. Podemos dizer que a espacialidade em “Flua” é, portanto, determinante para repensarmos a importância dos lugares em uma “dramaturgia dos acontecimentos” que se fazem não apenas no teatro, na dança ou na performance, mas, sobretudo, na vida.
SERVIÇO
Espetáculo “Flua”
Onde: Oficina Cultural Oswald de Andrade (sala 3)
Endereço: Rua Três Rios, 363, Bom Retiro – São Paulo
Quando: 13, 14, 20, 21 de janeiro
Horário: sextas e sábados, às 11h30, 14h, 16h e 18h
Quanto: entrada gratuita
Capacidade: 40 pessoas
Duração: 50 minutos
Ingressos: retirar uma hora antes do espetáculo ou pré-reservas através do site