ESCRITA HÁ 70 ANOS, “A FALECIDA”, CLÁSSICO TEATRAL DE NELSON RODRIGUES ESTREIA NO SESC SANTO AMARO

DIRIGIDA POR SERGIO MÓDENA, A PEÇA TRAZ NO ELENCO CAMILA MORGADO, THELMO FERNANDES, STELA FREITAS E GRANDE ELENCO
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01.08.2023

Victor Hugo Cecatto

Escrito há exatos 70 anos, o clássico teatral “A Falecida”, de Nelson Rodrigues (1912-1980), ganha uma nova montagem dirigida e idealizada por Sergio Módena e protagonizada por Camila Morgado, que volta ao teatro depois de um hiato de 11 anos distante dos palcos. O espetáculo estreia no dia 18 de agosto no Sesc Santo Amaro, em São Paulo.

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“Eu e Camila somos apaixonados por esse texto e pelo legado de Nelson Rodrigues. E ela é uma atriz “rodrigueana” por excelência, assim como o Thelmo Fernandes. Esta montagem marca a minha primeira direção de uma obra dele. Estamos criando uma encenação atemporal para a peça, que, originalmente, foi escrita em 1953 e se passa no subúrbio do Rio de Janeiro. Mas Nelson vai além da crônica carioca. Ele radiografa a miséria da alma humana, presente nos mais diversos lugares e épocas”, comenta o diretor sobre a idealização do projeto.

Protagonizando o espetáculo ao lado de Camila Morgado está Thelmo Fernandes, com uma vasta experiência em torno da obra do autor. A montagem conta ainda com Stela Freitas como atriz convidada. E também os atores  Gustavo Wabner, Alcemar Vieira, Thiago Marinho  e Alan Ribeiro

Classificada pelo saudoso crítico teatral Sábato Magaldi como uma das tragédias cariocas de Nelson Rodrigues, “A Falecida” narra o plano da tuberculosa e frustrada Zulmira, que sonha em ter um enterro cheio de luxo e pompa. Dessa forma, ela causaria inveja em sua prima e vizinha Glorinha, com quem nem fala mais e tem uma relação inexplicável de competição. 

Um pouco antes de morrer, Zulmira pede para seu marido Tuninho, que está desempregado e gasta todo o dinheiro com apostas, procurar o milionário Pimentel. Ela quer que o empresário pague para ela um enterro de 35 mil contos – o que beira o absurdo, uma vez que, na época, os funerais custavam menos de um conto. 

Logo depois da morte de Zulmira, ainda sem saber como ela conheceu Pimentel, Tuninho vai à mansão dele descobre que o rico empresário e sua esposa eram amantes. O marido traído ameaça contar tudo para um jornal inimigo de Pimentel e consegue arrancar dele uma pequena fortuna. Tuninho, então, dá à Zulmira um enterro “de cachorro” e aposta todo o resto do dinheiro.

Mesmo tendo sido escrita nos anos 1950, “A Falecida” “revela sua força e atualidade num país ainda regido pela falsa moralidade e hipocrisia. Nos dias de hoje o fanatismo religioso abordado por Nelson Rodrigues tornou-se ainda mais significativo em nosso país. A personagem Zulmira traiu o marido e, por esse motivo, ela é consumida pela culpa. Seu desejo por um velório luxuoso é sua maneira de se vingar de um mundo que não lhe oferece possibilidade de transformação. A morte torna-se sua redenção. Desse modo, o autor nos coloca um dilema: Poderá um enterro de luxo compensar uma vida de desilusões?”, indaga Módena.

Segundo o diretor, a encenação propõe uma estética  atemporal. No cenário de André Cortez, um grande mausoléu (um signo da ostentação social em meio aos mortos) é o espaço por onde os diversos planos de ação irão ocorrer. Os figurinos de Marcelo Olinto não buscam a reprodução histórica da década de 50. Ao contrário, parecem apenas evocar um tempo passado, atravessando diversas épocas. A trilha sonora, composta por Marcelo H, explora o conflito entre o sagrado e o profano. 

“Quando Zulmira se sente culpada, ela busca se afastar do profano, sendo constantemente atormentada por essa ideia. A trilha sonora percorreu diversos estilos, combinando desde obras de Dalva de Oliveira até samba. Essa mescla de estilos é uma característica marcante de Nelson Rodrigues, que inseria elementos cômicos em suas tragédias. O humor peculiar de Nelson está presente em nossa montagem, mesmo diante da trágica história de Zulmira”, acrescenta Módena.

SERVIÇO

Espetáculo “A Falecida”

Onde: Sesc Santo Amaro

Endereço: Rua Amador Bueno, 505, Santo Amaro, São Paulo

Quando: 18 de agosto até 1º de outubro

Horário: sexta às 21h, sábado às 20h e domingo às 18h

Quanto: R$ 40 (inteira) R$ 20 (meia)

Classificação etária: 16 anos

Duração: 90 minutos

Informações: através do site

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