ISRAEL PINHEIRO DESTRINCHA DESIGULDADES SOCIAIS BRASILEIRAS NA OBRA “3 NATAIS RECIFENSES”

“A LITERATURA TEM O DEVER MARCAR ESSAS DISTINÇÕES DE ALGUM MODO”, COMENTA O AUTOR
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20.12.2024

Divulgação / Márcio Amorim

Israel Pinheiro publicou “3 Natais Recifenses” para explorar, a partir de vivências tipicamente brasileiras, os sentimentos intensos que a época desperta: esperança e a satisfação dos reencontros, mas também a saudade e o luto. Por meio de uma linguagem bem-humorada, com desfechos leves e otimistas, os três contos que compõem o livro homenageiam a capacidade do povo brasileiro em ser resiliente mesmo diante das adversidades.

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Em entrevista, o premiado autor comentou sobre a importância de resgatar o espírito solidário nesta época de festas de fim de ano e destacou ainda o papel da literatura como catalizadora de pautas sociais, com debates sobre a desigualdade de classe e a valorização da identidade cultural do país. Leia a entrevista abaixo:

Portal Pepper: O que o inspirou a explorar o tema do Natal em Recife e suas complexidades sociais? Existe alguma experiência pessoal ou memória que influenciou a escrita dessas histórias?

Israel Pinheiro: O Natal muitas vezes nos provoca sensações ambíguas. E Recife é uma cidade de muitas assimetrias e contradições sociais. A indiferença dos que estão à mesa das ceias opulentas com a sorte dos que estão à mesa frugal me incomoda bastante, e é por aí que eu começo.

PP: A obra “3 Natais Recifenses” surgiu em meio à pandemia de Covid-19. Como esta experiência influenciou o seu processo criativo e os temas abordados na narrativa? Como questões sobre isolamento, medo e resiliência foram traduzidas nas tramas?

IP: A minha perplexidade com o estado de coisas durante a pandemia de Covid-19 influenciou bastante. Então eu tentei refletir um pouco sobre que tipo de sociedade somos a partir das escolhas absurdas que fazíamos em meio a uma crise sanitária de proporções impensáveis. Poder falar a um leitor isolado, compulsoriamente fora de sua grei, e de uma forma afetiva, me provou que o diálogo estético é sempre possível e, quase sempre, bem-vindo.

PP: O livro apresenta um retrato da classe média e das contradições sociais e estruturais da região. Como você enxerga o papel da literatura em provocar reflexões sobre desigualdades sociais?

IP: O livro transita por diferentes estratos da classe média. Acho que Recife é uma das poucas cidades do mundo onde existem classe média trabalhadora e classe média aristocrática. São realidades muito distintas para caber numa mesma nomenclatura oficial. A classe média trabalhadora recifense vive no fio da navalha e tem consciência de que a total pauperização é sempre um risco. A literatura tem o dever marcar essas distinções de algum modo.

PP: O humor e a crítica social são elementos marcantes em “3 Natais Recifenses”. Como você equilibra esses dois aspectos para transmitir mensagens mais profundas de forma leve?

IP: Eu acho que o bom humor sempre amplifica o alcance de uma reflexão. Tudo que eu faço, procuro fazer com leveza e com alguma elegância. Gosto de pensar que meus contos são uma espécie de conversa amistosa com o leitor, ainda que coisas duras possam ser ditas numa conversa amistosa, o tom faz toda a diferença.

PP: A cultura pernambucana permeia o livro, seja nos diálogos ou nas referências musicais e locais. Dentre os elementos culturais regionais quais você considera essenciais para capturar a essência da cidade durante o período natalino?

IP: Esses elementos fluem naturalmente de mim, eu sou um pernambucano típico. É tudo muito orgânico. Não acho que a cidade tenha um símbolo natalino incontornável. Talvez o mais peculiar seja essa ausência de símbolos próprios.

PP: O resgate do espírito solidário é um ponto chave da obra. Como você acredita que as tradições natalinas podem ajudar a reforçar conexões humanas e combater a sensação de isolamento?

IP: Há algo no Natal que nos compele a amar. É o que eu sinto. É de longe a minha época preferida do ano.

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