‘Roma’ confirmará as expectativas e se tornará o primeiro filme sem diálogos em inglês a vencer a categoria principal do Oscar? Seu diretor, Alfonso Cuarón, já é a pessoa mais indicada numa mesma edição (cinco categorias) desde as seis que Walt Disney conquistou em 1954.
Naquela ocasião, o magnata das animações venceu quatro vezes, fenômeno que o diretor mexicano pode repetir neste ano (só não é favorito em roteiro original) levando a estatueta dourada por filme, direção, fotografia e filme estrangeiro (ainda que oficialmente a Academia credite esse prêmio ao país de origem, e não aos produtores individuais).
Roma por Alfonso Cuarón
Em sua primeira indicação como diretor, Spike Lee levará seu primeiro Oscar? Provavelmente sim, mas não nesta categoria (onde Cuarón é vitória quase certa). Lee deve triunfar pelo roteiro adaptado do intrigante ‘Infiltrado na Klan’.
A noite ainda pode nos reservar a emoção de ver a já veterana Glenn Close, em sua sétima indicação, finalmente levar o troféu mais cobiçado do cinema para casa.
Infiltrado na Klan por Spike Lee
E ‘Pantera Negra’? Fará história conquistando múltiplas categorias para o “universo cinematográfico Marvel”? Tem chances reais em figurino e desenho de produção, e ainda pode beliscar trilha sonora e edição de som.
Por falar em Marvel, ‘Homem-Aranha no Aranhaverso’ é favoritaço entre as animações, e ‘Vingadores: Guerra Infinita’ tem tudo para vencer em efeitos visuais. Uma homenagem a tanto ao criador de seus principais personagens, Stan Lee, falecido em novembro de 2018, aos 95 anos.
No mais, assim como no ano passado, os prêmios devem ser bem distribuídos, dificilmente acumulando mais que quatro vitórias para qualquer uma das produções. Chegou o momento. A maior e mais tradicional premiação do cinema chega a sua 91ª edição neste domingo (24), no Teatro Dolby, em Los Angeles (EUA). Com início previsto para 22h (horário de brasília), a cerimônia será transmitida integralmente pelo canal a cabo TNT. Na Globo, o evento entra no ar apenas por volta de meia-noite, já adentrando seu terço final.
Pantera Negra por Marvel
Vamos às apostas para cada uma das 24 categorias do Oscar 2019:
Filme: vencedor do Bafta (o Oscar britânico) e Critics Choice, o mexicano ‘Roma’ é o grande favorito. Correndo por fora, apenas ‘Green Book: O Guia’, vencedor no Globo de Ouro e, principalmente, no sindicato dos produtores (PGA), pode desbancar o filme latino.
Direção: uma das três grandes certezas da noite. Alfonso Cuarón, de ‘Roma’, deve levar seu segundo Oscar como diretor, o que seria o quinto para um mexicano nesta categoria nos últimos seis anos! Incrível feito que ele mesmo iniciou ao vencer em 2014, por ‘Gravidade’.
Atriz: disputa quente entre a norte-americana Glenn Close (‘A Esposa’), vitoriosa no sindicato dos atores (SAG), e a britânica Olivia Colman (‘A Favorita’), vencedora do Bafta. Ambas triunfaram no Globo de Ouro, que divide as concorrentes em drama e comédia. Close deve prevalecer.
Ator: Rami Malek (‘Bohemian Rapsody’), vencedor do Globo de Ouro (drama) no início do ano, ganhou força nas últimas semanas, ao levar SAG e Bafta. Mas as conquistas no Globo de Ouro (comédia) e Critics Choice ainda deixam Christian Bale (‘Vice’) vivo na disputa.
Atriz Coadjuvante: talvez o caso mais curioso da temporada de premiações. A atuação impecável de Regina King em ‘Se a Rua Beale Falasse’ rendeu à atriz mais de 25 prêmios no circuito da crítica norte-americana, além do Globo de Ouro e Critics Choice. Já nas grandes premiações, no entanto, foi preterida por SAG e Bafta. Por isso seu favoritismo é relativo e deixa margem para Rachel Weisz ou Emma Stone, ambas de ‘A Favorita’, ainda sonharem com o segundo Oscar de suas carreiras.
Ator Coadjuvante: Após vencer Globo de Ouro, Critics Choice, SAG e Bafta, Mahershala Ali (‘Green Book’) se sobrepôs aos igualmente formidáveis Richard E. Grant (‘Poderia me Perdoar?’) e Sam Elliott (‘Nasce Uma Estrela’) e tem tudo para levar para casa seu segundo Oscar, apenas dois anos após triunfar nesta mesma categoria, por ‘Moonlight: Sob a Luz do Luar’.
Roteiro Original: assim como ano passado, este deve ser o prêmio que mais nos indique sobre o desfecho da noite. Ao não vencer este quesito em 2018, ‘Três Anúncios Para Um Crime’ nos deixou claro que ‘A Forma da Água’, seu principal concorrente, seria o grande vencedor minutos mais tarde. Isso porque, há décadas, o campeão da noite leva, também, no mínimo, ou o prêmio de direção, ou o de roteiro. Considerando certa a vitória de Cuarón (‘Roma’) como diretor, a esperança de ‘Green Book’ – cujo diretor, Peter Farrelly, sequer concorre em sua categoria – consiste basicamente em prevalecer aqui, onde ‘A Favorita’ é seu principal adversário.
Roteiro Adaptado: tudo aponta para que o catártico e perturbador ‘Infiltrado na Klan’ dê a Spike Lee seu primeiro Oscar.
Filme Estrangeiro: apesar de bons concorrentes, ‘Roma’ imperou absoluto nas principais premiações e deve confirmar seu favoritismo. Ao passo que uma inesperada zebra também indique fracasso mexicano na categoria principal.
Documentário: ‘Free Solo’, espetacular produção da National Geographic sobre um alpinista que escala montanhas sem auxílio de cordas, venceu o Bafta e sua excelência cinematográfica o credencia fortemente ao prêmio. Já ‘RGB’, que conta a trajetória de Ruth Bader Ginsburg, veterana juíza da suprema corte norte-americana, tem estrutura mais tradicional, valendo-se principalmente da força de sua protagonista, que ajudou a derrubar inúmeras leis machistas em seu país, e que dá ao Oscar a chance de premiar um filme concebido essencialmente por mulheres, que ocupam, sozinhas, as principais funções (produção, direção, fotografia, trilha sonora e montagem).
Documentário em Curta-Metragem: o impactante ‘Black Sheep’ é a produção mais refinada, nos apresentando um garoto negro que se maquiava e usava lentes de contato azuis para ser aceito pelos amigos brancos. Seu desfecho, porém, não é dos mais esperançosos, o que vai contra a tradição desta categoria no Oscar. Favorece, desta forma, ‘Absorvendo o Tabu’, que nos mostra a emancipação de mulheres do subúrbio indiano que passam a fabricar e comercializar absorventes, item utilizado por apenas 10% da população feminina do país. Produzido por dezenas de estudantes da Califórnia, é o único dos cinco indicados que não nos deixa amargurados no final.
Animação: a segunda grande certeza da noite. Mesmo com grandes concorrentes, não há quem desbanque ‘Homem-Aranha no Aranhaverso’, avassalador na temporada de premiações, e que deve quebrar a série de seis anos consecutivos em que Disney e Disney-Pixar se alternaram no topo da categoria.
Animação em Curta-Metragem: ao contrário do que se pensa, produções da Pixar venceram apenas duas vezes aqui (‘Coisas de Pássaros’ em 2002, e ‘Piper’ em 2017). Por isso ‘Bao’, sobre a mãe que enfrenta a crise do ninho vazio, pode não ser uma aposta tão certa. ‘Weekends’, ironicamente produzido por membros da Pixar, é o mais premiado dos concorrentes, e o irlandês ‘Fim de Tarde’, sobre uma senhora com Mal de Alzheimer, sem dúvida é o mais emocionante.
Montagem (edição): ‘Bohemian Rapsody’ e ‘Vice’ dividem o favoritismo. O primeiro venceu no sindicato (ACE), enquanto o segundo triunfou no Bafta. São duas linhas distintas de montagem: ‘Bohemian’, como esperado num filme altamente musical, privilegia o ritmo e tem mais a ver com a linha que o Oscar vem premiando nos últimos anos, ao passo que ‘Vice’ prima pelas sagazes associações metafóricas entre as imagens.
Fotografia: seja confirmando o favoritismo de ‘Roma’, seja premiando o azarão – mas de visual tão belo quanto o do filme mexicano – ‘Guerra Fria’, veremos a primeira produção majoritariamente em preto e branco vencendo a categoria em 25 anos, desde a coroação de ‘A Lista de Schindler’ em 1994.
Efeitos Visuais: grande vencedor no sindicato (VES), ‘Vingadores: Guerra Infinita’ deve dar à Marvel mais um prêmio na noite. No entanto, ‘Jogador Nº1’, megaprodução de Steven Spielberg, pode surpreender.
Desenho de Produção (direção de arte) e Figurino: entre as grandes dúvidas da noite, ‘A Favorita’ e ‘Pantera Negra’ dividiram vitórias nestas categorias durante a temporada. A produção britânica as conquistou no Bafta (onde ‘Pantera’ não concorreu), enquanto que a turma de Wakanda prevaleceu no Critics Choice. Ambas foram premiadas nos sindicatos (ADG e CDG), que separam as produções nas categorias contemporâneo, ficção/fantasia (caso de ‘Pantera’) e filme de época (‘A Favorita’).
Maquiagem: grande vencedor no sindicato (MHG) e Critics Choice, a impressionante caracterização de Christian Bale como o empresário e político Dick Cheney deve valer o prêmio a ‘Vice’.
Trilha Sonora: a equivocada direção de Damien Chazelle (vencedor por ‘La La Land’ em 2017) fez ‘O Primeiro Homem’ ir perdendo força durante a temporada. Sobrou para Justin Hurwitz (também vencedor por ‘La La Land’), que levou boa parte dos prêmios prévios, incluindo Globo de Ouro e Critics Choice, mas acabou de fora tanto do Bafta quanto do Oscar. Desta forma, o caminho parece aberto para a belíssima trilha de Nicholas Britell (‘Se a Rua Beale Falasse’). Mas o sueco Ludwig Göransson (‘Pantera Negra’) pode surpreender. Sem falar no já icônico Alexandre Desplat, francês vencedor no ano passado por ‘A Forma da Água’, e em 2015, por ‘Grande Hotel Budapeste’, que com ‘Ilha dos Cachorros’ chega a sua décima indicação em apenas 13 anos.
Canção Original: a terceira grande certeza da noite. Alguém ainda acha que Lady Gaga não leve essa por ‘Shallow’, de ‘Nasce Uma Estrela’?
Edição de Som e Mixagem de Som: breve resumo para que não fiquem dúvidas – os mixadores constroem a paisagem sonora, equilibrando música, diálogos e efeitos sonoros, enquanto os editores de som respondem por esses efeitos, determinando qual som corresponderá a cada movimento/objeto. Dito isto, ‘Bohemian Rapsody’ se deu bem no dois sindicatos, especialmente no de mixagem (CAS), e ainda faturou o Bafta (que contempla uma única categoria englobando os dois aspectos). ‘Um Lugar Silencioso’ foi bem entre os editores (MPSE), além de vencer alguns dos prêmios prévios.
Curta-Metragem: se este for, de fato, o Oscar da representatividade, seguindo os passos que a Academia tem dado nessa direção nos últimos anos (simbolizados sobretudo por ‘Moonlight’, em 2017, e ‘Uma Mulher Fantástica’ no ano passado), o canadense ‘Marguerite’, sobre a amizade entre a personagem-título e sua enfermeira particular, deve triunfar. Seus concorrentes são fortes, mas assim como ‘Absorvendo o Tabu’ entre os curtas documentais, ‘Marguerite’ é o único aqui que não nos embrulha o estômago.
OSCAR 2019 (Academy Awards 2019) – Los Angeles, EUA. Domingo, 24/2, a partir das 22h no canal a cabo TNT (na Globo, a partir de 00h)