DOS PIORES AOS MELHORES, OS CURTAS DO OSCAR 2023 E COMO ASSISTI-LOS

PORTAL PEPPER ANALISA OS 15 CURTAS-METRAGENS INDICADOS À PREMIAÇÃO
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08.03.2023

Divulgação

A poucos dias da cerimônia do Oscar 2023, marcada para 12 de março, em Los Angeles, nos Estados Unidos, o Portal Pepper analisa cada um dos 15 curtas-metragens indicados este ano, distribuídos nas três categorias da premiação dedicadas ao formato: animação, ficção e documentário em curta-metragem. Sete deles são dirigidos ou codirigidos por mulheres, enquanto 11 estão disponíveis online, com link ao final de cada parágrafo.

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Favoritos não são necessariamente os melhores – algo até corriqueiro se tratando de Oscar. Em ordem crescente de preferência, conheça os indicados:

ANIMAÇÃO

5 – ‘The Flying Sailor’ (de Amanda Forbis e Wendy Tilby, Canadá, 8 min)

A terceira indicação da dupla na categoria (e quarta de Tilby) remonta à grande explosão do porto de Halifax, no Canadá, quando dois navios, um deles lotado de munições e explosivos, se chocaram provocando uma explosão que destruiu tudo ao redor, vitimando quase 2 mil pessoas e ferindo outras 9 mil. Dentre estes, Charlie Mayers, marinheiro que foi arremessado por mais de dois quilômetros e ainda assim sobreviveu. Com técnicas de animação em 2D e 3D, e homenageando animações clássicas da era muda, o curta explora o que passou pela mente do marinheiro durante os terríveis segundos entre a explosão e sua queda. Eficiente, reflexivo e prazeroso, mas, talvez, curto demais. Sua simplicidade é, ao mesmo tempo, uma qualidade e uma limitação. Disponível no Youtube.

4 – ‘My Year Of Dicks’ (Sara Gunnarsdóttir, EUA/Islândia, 24 min)

Baseado nas memórias da roteirista Pamela Ribon, o curta mostra, em cinco partes, a busca da autora durante sua adolescência pela pessoa com quem perderia a virgindade. Apesar da edição ágil, diálogos divertidos e de abordar o tema sob um ponto de vista não patriarcal, a conveniência do desfecho não condiz com a originalidade de sua premissa. Disponível no Vimeo.

3 – ‘O Menino, A Toupeira, A Raposa e o Cavalo’ (Peter Baynton e Charlie Mackesy, Reino Unido/EUA, 32 min)

Grande favorito ao Oscar e tendo entre os produtores nomes de peso como o cineasta J.J. Abrams e o ator Woody Harrelson, se não é o melhor, é ao menos o mais fofo dos indicados. Baseado no livro e ilustrações de Charlie Mackesy, trata-se da fábula onde um pequeno garoto perdido vai encontrando e se afeiçoando às demais criaturas do título. Enquanto vagam à procura da família do menino, conversam sobre as diversas qualidades que devem moldar o ser humano. O problema é que da metade em diante o encanto vai desaparecendo conforme os diálogos começam a soar como um mero discurso de autoajuda. Ainda que as frases sejam bonitas e inspiradoras, já não parecem saírem genuinamente das personagens, perdendo-se autenticidade. Disponível no AppleTV+.

2 – ‘An Ostrich Told Me The World is Fake And I Think I Believe It’ (Lachlan Pendragon, Austrália, 11 min)

Com evidentes referências a ‘Matrix’ (1999), em “um avestruz me contou que o mundo é falso e acho que acredito” (tradução livre do título original), Neil, um jovem funcionário de uma empresa de televendas, começa a perceber características estranhas em seu universo, que é basicamente um stop-motion em produção, nos revelando, por exemplo, a tela verde (chroma key) usada na composição digital de cenários e diversos truques inerentes a esse tipo de animação. Fazendo interessante uso da metalinguagem, o curta nos leva a refletir, assim como ‘Matrix’, sobre o mecanicismo da sociedade e a uniformização do indivíduo, destituído de autonomia plena. Assista no Vimeo.

1 – ‘Ice Merchants’ (João Gonzalez, Portugal/Reino Unido/França, 14 min)

Em seu terceiro curta-metragem, o jovem diretor português realiza o melhor dos indicados em sua categoria, conquistando a primeira indicação de Portugal ao Oscar. Sem diálogos, a produção aposta na força de suas imagens para contar, com maestria, comoção e preciosas sutilezas, a história de um pai e um filho que vivem no meio de um penhasco, onde coletam gelo para vender no vilarejo ao pé da montanha. Para chegarem lá embaixo rapidamente, antes que o produto comece a derreter, simplesmente saltam de paraquedas todos os dias, até que mudanças climáticas e a força da natureza os levam à uma difícil decisão. Embora conste no Youtube, o título não está disponível para visualização fora dos Estados Unidos, sendo necessário uma conexão VPN para o acesso (recomendamos o Proton VPN, que é gratuito e seguro)

FICÇÃO

5 – ‘Nattrikken’ / ‘Night Ride’ (Eirik Tveiten, Noruega, 15 min)

Da metade para frente o bonde entra nos eixos com uma forte trama anti-homofóbica e inclusiva. Seu prólogo, porém, é um tanto ridículo, retratando uma mulher adulta com nanismo (interpretada por Sigrid Kandal Husjord) como alguém completamente impulsivo e irresponsável. Nada comparado ao horroroso ‘Sukienka’/‘The Dress’, concorrente polonês da categoria no ano anterior, também protagonizado por uma atriz com nanismo (Anna Dzieduszycka), mas as ações iniciais que levam à situação mais interessante reduzem bastante o potencial do projeto. Assista no VK com legendas em inglês (aqui).

4 – ‘An Irish Goodbye’ (Tom Berkeley e Ross White, Irlanda/Reino Unido, 23 min)

Dois irmãos distantes se reaproximam ao passarem juntos, no antigo rancho da família, os primeiros dias de luto após a morte da mãe. Apesar de considerado um dos favoritos ao prêmio, ao lado de ‘Le Pupille’, “um adeus irlandês”, em tradução livre do título original, tem bom início, mas vai se tornando irregular, apostando numa dose de humor que se mostra descalibrada, como nas intervenções do padre tagarela, que a princípio arrancam sorrisos, mas a certa altura se tornam inconvenientes. O curta se enfraquece ainda mais quando os irmãos decidem cumprir a suposta lista de últimos desejos deixada pela mãe, apresentando situações bobas que culminam no grotesco “salto de paraquedas” da urna onde estão depositadas as cinzas da falecida.

3 – ‘Ivalu’ (Anders Walter e Pipaluk K. Jørgensen, Dinamarca, 16 min)

A busca da pequena Pipaluk por Ivalu, sua irmã adolescente, vai ganhando contornos cada vez mais angustiantes e repulsivos. O clima gélido e a paisagem inóspita da Groenlândia reforçam essas sensações, acentuando também a gravidade do tema.

2 – ‘Le Pupille’ (Alice Rohrwacher, Itália/EUA, 37 min)

Tendo o premiado cineasta mexicano Alfonso Cuarón entre os produtores, além da relevante distribuição da Disney pelo mundo, ‘Le Pupille’ divide favoritismo com ‘An Irish Goodbye’ e é o mais distinto dos indicados. A trama se passa em um orfanato feminino gerido por freiras durante a Segunda Guerra Mundial. Protagonizado pelas pequenas pupilas, o curta se destaca por seu visual realista em contraste com os breves interlúdios musicais e o humor ácido com que trata a hipocrisia da madre superiora em oposição à irresistível simplicidade das crianças. Disponível no Disney+.

1 – ‘The Red Suitcase’ (Cyrus Neshvad, Luxemburgo, 18 min)

Vem de Luxemburgo, um dos menores países da Europa, o melhor curta-metragem de ficção do Oscar 2023. Em “a mala vermelha” (tradução livre do título original), uma adolescente muçulmana tenta escapar de um casamento forçado, negociado pelo pai. Além da direção ser hábil ao construir suspense e tensão crescentes, é sagaz ao utilizar as placas publicitárias do aeroporto onde as ações se passam, todas estreladas por mulheres, para enfatizar sua mensagem pró-feminismo, seja ironizando a situação (“slice of fun”: fatia de diversão; “choose me”: me escolha) ou dando um recado menos velado (“united”: unidas; “ready to unlimited”: pronta [para ser] ilimitada; “your getaway”: sua fuga).

DOCUMENTÁRIO

5 – ‘Como Cuidar de um Bebê Elefante’ (Kartiki Gonsalves, Índia, 40 min)

Assim como na disputa das animações em curta-metragem, o favoritismo aqui recai sobre a produção mais fofa, leve e edificante dentre as concorrentes – tendência que, no fim das contas, historicamente acaba abarcando outras categorias também. É claro que a empatia e a admiração pelo casal e os filhotes de elefante cuidados com tanto amor comove a qualquer um, mas a condução narrativa que pode render um Oscar logo na estreia de sua jovem diretora é a mais simples possível quando comparada a de seus concorrentes. Disponível na Netflix.

4 – ‘How do You Measure a Year?’ (Jay Rosenblatt, EUA, 29 min)

Após ser bizarramente indicado pelo grosseiro ‘Quando Éramos Bullies’ na edição anterior, o veterano diretor retorna este ano com algo realmente digno. Em “Como Você Mede um Ano?” (tradução livre), Rosenblatt apresenta um compilado de respostas que sua filha lhe dava a cada aniversário dela, dos dois aos 18 anos. As perguntas eram sempre as mesmas, entre elas: o que deseja ser quando crescer, o que acha da relação entre os dois, o que mais gosta na vida e o que é poder. As respostas tornam-se significativos marcos do desenvolvimento emocional, intelectual e social de um ser humano.

3 – ‘O Efeito Martha Mitchell’ (Anne Alvergue e Debra McClutchy, EUA, 40 min)

Explorando imagens e áudios de arquivo, o documentário se debruça sobre o papel decisivo de Martha Mitchell para disseminação e desdobramentos do “caso Watergate”, um dos maiores escândalos da história dos EUA. Mitchell era esposa de John N. Mitchell, procurador-geral do governo de Richard Nixon (que durou de 1969 a 1974) e mantinha relação próxima com o presidente, sempre desconfortável com suas alfinetadas. A produção ganha traços dos mais instigantes suspenses políticos, finalmente dando o devido destaque a uma das principais protagonistas do episódio. Disponível na Netflix.

2 – ‘Stranger at The Gate’ (Joshua Seftel, EUA, 29 min)

Em “estranho no portão” (tradução livre), ao contar a história de um fuzileiro naval aposentado, o experiente diretor manipula a audiência sem qualquer constrangimento, nos induzindo ao mesmo erro de seu protagonista: o pré-julgamento. A estratégia de usar o “e se…” logo de início potencializa a metade final, quando sentimentos de paz e tolerância religiosa prevalecem. Assista no YouTube, com legendas em inglês (que, quando acessado por computador e dispositivos móveis, podem ser traduzidas automaticamente para o português).

1 – ‘Haulout’ (Maxim Arbugaev e Evgenia Arbugaeva, Rússia/Reino Unido, 25 min)

O melhor da categoria neste ano se destaca pelo amplo domínio da narrativa cinematográfica – e se estamos falando da premiação mais tradicional do cinema, isso deveria ser importante. O título diz respeito a determinados lugares, como ilhas e placas de gelo, onde aves e mamíferos que vivem próximos aos polos da Terra descansam enquanto realizam a migração anual em busca de áreas menos afetadas pelos rigorosos invernos dessas regiões. Sem narração ou entrevistas, ‘Haulout’ confia em seus planos, enquadramentos e montagem para nos transmitir a exaustão cada vez maior das milhares de morsas que chegam ao litoral do extremo nordeste da Rússia passam para concluir a travessia, consequência do acelerado derretimento de gelo causado pelas mudanças climáticas promovidas pela humanidade, que as deixam sem pontos de descanso suficientes. Assista no YouTube, com legendas em inglês (se acessado por computador ou dispositivos móveis, é possível traduzi-las automaticamente para o português nas configurações).

OSCAR 2023 (Academy Awards 2023) - Los Angeles (EUA) - Domingo, 12/3, a partir de 21h no canal TNT e streaming HBO Max.

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