Arquivos pessoais têm a capacidade de revelar, mais do que apenas a dureza dos documentos, as relações sentimentais e intelectuais que permearam a vida daquele que resolveu preservar sua história em formato de acervo.
E é um feliz exemplo disso a recuperação do lado cronista do historiador e sociólogo Clóvis Moura em “Memórias de Sparkenbroke: Fora do Tempo”, lançamento da Editora Unesp com cuidadosa organização de profissionais do Centro de Documentação e Memória da Unesp (Cedem) que, após a morte de Moura, em 2003, recebeu seu acervo como doação da família.
Com grande variedade de documentos, uma fatia considerável remete a originais de suas obras literárias. “Entre eles, encontra-se o motivador desta publicação: as crônicas ‘Fora do Tempo’, ‘assinadas’ por Sparkenbroke“, anota Sonia Troitiño, uma das organizadoras da obra.
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Sparkenbroke dá nome ao célebre romance de Charles Morgan, publicado originalmente em 1936. “Mesmo publicadas diariamente no jornal A Folha, de São Carlos, entre 1972 e 1973, no arquivo encontram-se compiladas por seu próprio autor, com apresentação inédita por ele escrita, sob o título ‘As confissões de um amigo'”. Surge, assim, o livro que, apesar de composto por crônicas publicadas individualmente, pode ser considerado uma obra inédita enquanto conjunto de textos articulados.
“De certa forma, Sparkenbroke foi a síntese de todas as facetas de sua personalidade. O Clóvis Moura que eu conheci”, escreve sua filha Soraya Moura. Este intelectual marxista conhecido e consagrado por sua vasta obra e importante contribuição para os estudos sobre o negro brasileiro, agora, se revela aos leitores de forma sistemática e organizada por meio de suas crônicas. Ou melhor: das crônicas de seu amigo Sparkenbroke. 368 páginas. R$ 78.