Caprichado, ‘Simonal’ faz jus ao recente universo cinematográfico da música brasileira

Isis Valverde e Fabrício Boliveira voltam a formar casal nas telonas
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12.08.2019

Divulgação / Reprodução

Dez anos após o documentário ‘Ninguém Sabe o Duro Que Eu Dei’, de Calvito Leal, Claudio Manoel e Micael Langer, Wilson Simonal (1938-2000), dono de uma das vozes mais belas já nascidas no país, responsável por arrastar multidões nos anos 60 e 70, finalmente ganha sua cinebiografia.

‘Simonal’, primeiro longa de Leonardo Domingues, se junta a ‘Tim Maia’ (2014), ‘Elis’ (2016) e ‘Minha Fama de Mal’ (2019) neste respeitoso universo cinematográfico em construção sobre a história da música popular brasileira. O produtor Carlos Imperial (1935-1992), por exemplo, aqui vivido por Leandro Hassum, é figura importante em todos eles. Luís Carlos Miele (1938-2015) só não aparece no filme sobre Erasmo Carlos, embora compartilhassem os mesmos ambientes.

Mesmo não fugindo de certos clichês deste tipo de biografia – manchetes de jornais pipocando na tela, fachadas de neón dos lugares em que se apresentava sucedendo-se durante a noite – ‘Simonal’ começa com um plano-sequência exuberante, de vários minutos de duração, que nos arremessa diretamente para o clima de uma típica noite musical do Rio dos anos 70. Outros desses planos sem cortes, apesar de menos extensos, ocorrerão durante o filme, sempre com a mesma destreza e ganho narrativo do primeiro, como quando o astro larga palco e plateia por alguns minutos para ir à rua, no boteco ao lado, retornando em seguida.

Assim como nos outros títulos desse universo biográfico-musical, Leonardo Domingues também nos entrega um produto de visual caprichado, com cenários e figurinos minuciosamente apurados, corroborados com os prêmios de fotografia e direção de arte em Gramado 2018, onde ganhou, também, o Kikito de melhor trilha sonora.

Critica Simonal Filme

Se o auge do recente ‘Bohemian Rhapsody’ (2018) é a reprodução detalhada do lendário show do Queen no estádio de Wembley, aqui pouco importa se o diretor não dispõe de um orçamento que lhe permita reconstituir a épica noite em que o cantor regeu 30 mil vozes no ginásio do Maracanãzinho. As envelhecidas imagens de arquivo falam mais forte que qualquer tentativa de encenação.

Reeditando a parceria de ‘Faroeste Caboclo’ (2013), Isis Valverde e Fabrício Boliveira voltam a formar um par protagonista. Em atuação segura, a atriz vive Tereza Pugliesi, primeira esposa do cantor, com quem teve três filhos, entre os quais os também músicos Simoninha e Max de Castro, responsáveis pela trilha sonora do filme. Boliveira demonstra-se inteiramente à vontade no papel, encarnando com naturalidade o carisma, a presunção narcisista e os lapsos de ingenuidade do artista.

Critica Simonal

Ingenuidade que lhe custou uma carreira de sucesso prolongado. A acusação de que prestaria serviços para o governo militar o condenou ao permanente marasmo. Ironia da história, talvez hoje as coisas seriam diferentes, e sua credibilidade estivesse, no máximo, dividindo opiniões. Ainda mais irônico será ver ao término de cada sessão quem o defenda não exatamente pelos mesmos motivos daqueles que o faziam décadas atrás, tamanha a inversão de valores que tem acontecido.

Por isso, Domingues prioriza manter sempre próxima a distância entre o popstar e aquele que trabalha para alcançar e manter o estrelato. Uma forma de conceder ao espectador uma visão equilibrada dos dois lados do Simonal, que, no fundo, nem eram tão distintos assim, com sua constante autoestima e confiança elevadas.

Sabiamente o enredo não avança para muito além do início de seu ostracismo de quase três décadas. Se vítima de perseguição de uma sociedade preconceituosa, ou de sua própria extravagância ofuscante, é, no mínimo, lamentável ver tanto talento repreendido e desperdiçado, sobretudo por consequência direta da época sombria pela qual o país passava. Lições que parecem não terem sido aprendidas.

Simonal – Brasil, 105 min, 2018. Dir.: Leonardo Domingues – Estreou em 8/8. Assista o trailer:

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