Bem, na medida do possível.
Já perdi as contas de quantos dias essa é a resposta para a pergunta “Como você está?”. Queria responder e receber “bem” como resposta. Sem complementos. Bem, de verdade. Bem de saúde. Bem disposta. De bem. Mas não. Até porque todos os últimos acontecimentos têm nos atropelado, não conseguimos passar um dia sequer sem esse pesadelo.
Mas, bem. Na medida do possível, óbvio.
Vivendo bem com medo. Constantemente. Medo do que pode me acontecer, do que pode acontecer com as nossas e os nossos, medo das notícias que vou receber através dos canais ou no meu telefone. Bem indisposta para desenvolver atividades, seja pela impossibilidade do momento ou pela ansiedade extrema que tudo isso traz. E bem tentando viver da maneira mais normal possível.
Mesmo sabendo que ninguém consegue atravessar esse momento sem se afetar.
Na medida do possível, bem.
Deixando para depois sonhos que planejei há muito tempo. E bem angustiada com isso. Bem sozinha e afetada com a ausência de cada encontro que não pôde acontecer no último ano.
O ESPELHO DE DUAS FACES – A GENTE TEM SE OLHADO, MAS NÃO SE VISTO
Bem crente de que a cada dia perdemos mais e mais. Parece irrecuperável.
Na medida do possível.
Bem sem saber o que dizer, ou como dizer. 4249 vidas perdidas. E mais da metade da população brasileira vivendo em uma situação de insegurança alimentar. Bem distante da normalidade. E infelizmente bem cruel. O que nós estamos fazendo? O que fizeram com esse lugar?
Dia desses entrei em uma rede social e vi alguém dizendo que não reclama mais dos dias iguais, já que isso indica que todos os familiares e amigos estão vivos. Parei e refleti. Se eu não me engano, no mesmo dia, mais tarde, comentei com uma amiga o quanto seguir os horários da rotina que eu pré estabeleci tem me feito ficar menos angustiada. Ela concordou e ficamos um tempo falando sobre isso.
É complexo parar para pensar que antes a gente vivia querendo fugir da rotina, e hoje nos vemos desesperados para ter uma.