Nos últimos anos, São Paulo se tornou a Broadway brasileira, repleto de musicais que invadiram os teatros, com suas majestosas criações, versões e cenografias de tirar o fôlego, além das narrativas impecáveis, atuações fabulosas, figurinos detalhado, e claro, o visagismo bem elaborado, pensado milimetricamente para cada personagem, fez com que a capital paulistana entrasse na rota dos grandes espetáculos.
Há mais de 30 anos no mercado da maquiagem, Anderson Bueno se consolidou como o “rei dos musicais”, título dado pelos colegas de profissão, devido ao seu vasto currículo que já ultrapassa mais de 56 óperas e 25 espetáculos musicais. Atualmente, o profissional assina cinco produções – “Beetlejuice”, “Iron – O Homem da Máscara de Ferro”, “O Mágico de Oz”, “A Rouxinol e a Rosa” e “Parabéns, Senhor Presidente”, entre outras pequenas atrações.
A peça “O Mágico de Oz” é inspirada na obra literária infanto-juvenil de L. Frank Braum, lançada no ano de 1900. Nessa superprodução do clássico adaptado para os dias de hoje, a menina Dorothy é vivida por Duda Pimenta, Danielle Winits como Bruxa Má, Sienna Belle como Glinda e Frederico Reuter, o Mágico. Seus inseparáveis companheiros o Espantalho (Ivan Parente), Homem de Lata (Vinicius Loyola) e o Leão (Maurício Xavier) prometem levar o público a momentos de muitas risadas, emoção e reflexão.
“Foi desafiador criar estas caracterizações, por conta das diversas montagens já feitas e principalmente porque ‘Wicked’ acabou de sair de cartaz. As comparações seriam inevitáveis. Mas eu quis fazer uma homenagem ao filme, uma releitura daqueles personagens tão icônicos e que sofreram horrores com a caracterização da época, já que os produtos que tinham não eram leves e causavam inúmeras irritações e alergias”, comenta Bueno sobre a caracterização dos personagens.
“A durabilidade da maquiagem é o maior desafio. Os figurinos são pesados e quentes – os atores cantam, dançam freneticamente debaixo de luzes bem fortes. Precisam trocar a maquiagem em poucos minutos, tudo isso influencia na hora de pensar na caracterização. Ainda bem que hoje temos produtos de excelente qualidade e durabilidade. Aliás, no personagem do Mágico, estamos trabalhando com uma marca nacional para as caracterizações”, complementa.
Já em “Beetlejuice – o Musical”, o desafio é ainda maior, pois trata-se de um clássico inspirado no filme lançado no final do anos 1980, dirigido por Tim Burton – “Beetlejuice – Os Fantasmas Se Divertem”. O sucesso foi tamanho que, mais de 30 anos depois, o filme se transformou em um musical da Broadway, que estreou em 2019, e agora, finalmente, chegou a hora da versão brasileira, com direção de Tadeu Aguiar e produção geral de Renata Borges Pimenta. O musical começa sua temporada em fevereiro, em São Paulo.
A montagem brasileira traz um super elenco de 26 atores: além de Eduardo Sterblitch, no papel-título, temos Ana Luiza Ferreira (Lydia Deetz), João Telles (alternante Beetlejuice), Lara Suleiman (Lydia Deetz), Helga Nemetik (Barbara Maitland), Marcelo Laham (Adam Maitland), Laura Visconti (cover Bárbara) entre outros. Novos atores irão fazer parte da montagem paulistana. O diretor não esconde a empolgação: “foi um desafio encontrar um elenco que cantasse, dançasse e, principalmente, fosse de bons atores. Acho que chegamos a um elenco excepcional. Foram mais cinco mil inscritos, mais de quinhentos testados”, celebra.
“O personagem está muito ligado a nossa juventude, marcou uma geração. Eu gosto das duas versões. Ambas criadas por maquiadores que eu conheço e admiro. A versão cinematográfica, foi criada pela ganhadora do Oscar, Ve Neil, com quem tive a honra de fazer um workshop, nos tempos do Prêmio Avon de Maquiagem. A versão da Broadway foi criada pelo maquiador Joe Dulude II, o mesmo de ‘Wicked’ e ‘Bob Esponja’. Eu quis criar algo que misturasse um pouco das duas versões. Mas que mantivesse a ideia dele ser um zumbi. A minha produção é uma homenagem às duas versões, criadas por profissionais que me inspiram”, explica Anderson Bueno sobre o processo.
“O Eduardo [Sterblitch] é genial. Ele participa literalmente do processo criativo da caracterização. Isso é ótimo! Porque é ele que irá usá-la todos os dias de espetáculo. Isso o ajuda no processo de interpretação, para que possa encontrar trejeitos, manias ou vícios do personagem. Por exemplo; o Edu, adora o cabelo longo e despenteado, onde mexe e balança bastante a cabeça, deixando o personagem com um ‘tic’ irritante e engraçado. Já o João, que alterna com o Edu, adora a ferida que tem no rosto. No início fizemos com prótese, mas por conta da transpiração deles, ela não durava tanto como gostaríamos, acabamos substituindo por uma técnica básica, utilizando algodão, para dar o efeito. O Beetle do João tem o hábito de ficar puxando a ferida, como se a pele estivesse desgrudando / descascando. É engraçado ver o ator incorporando aquele efeito para compor as manias do seu personagem”, adiciona Bueno sobre o processo criativo de Beetlejuice.
Em cartaz no Rooftop 033, em São Paulo, encontra-se o musical “Iron: O Homem da Máscara de Ferro” que é uma livre adaptação do clássico de Alexandre Dumas (1802-1870), ambientado na França absolutista de Luís XIV: o drama de um prisioneiro, interpretado por Tiago Barbosa, fadado a viver com o rosto coberto por uma pesada máscara de ferro, levantando suspeitas de que seria um irmão gêmeo do tirano. Os três mosqueteiros têm a missão de libertar o misterioso sósia e ajudá-lo a tomar o poder. “O visagismo não tem nada, absolutamente nada a ver com o filme, a não ser a história, claro. A montagem é bem atemporal, traz diversas referências e a maquiagem vai mais para um universo gótico”, destaca Anderson Bueno.
Viajando para outra dimensão com personagens simbólicos para o mercado cinematográfico, chegamos ao 45º aniversário do então presidente americano John Kennedy, comemorado em 19 de maio de 1962, a data ficou marcada na mitologia dos anos 1960 com a imagem de Marilyn Monroe cantando um “Happy Birthday” tão sexy quanto histórico. Naquela noite, Maria Callas foi ovacionada ao cantar “Habanera” da ópera “Carmen”. Ambas se conheceram rapidamente nos bastidores do Madison Square Garden. Esse encontro é o ponto de partida de “Parabéns Senhor Presidente, in Concert”, com Vanessa Gerbelli (como Maria Callas) e Juliana Knust (como Marilyn Monroe).
Anderson Bueno trouxe para a assinatura das personagens o máximo de detalhes característicos das artistas para cativar o público através da maquiagem e figurino, o texto é assinado por Fernando Duarte e Rita Elmôr, com direção de Fernando Philbert. “Quem nunca viu a cena clássica de Marilyn Monroe cantando ‘Happy Birthday Mr. President’? A loira fez a versão de “Parabéns pra Você”, entrar para a história. Antes dela subir ao palco, com seu vestido de sereia rosa chá, grandes artistas se apresentaram, entre eles, Maria Callas, a atração mais aplaudida da noite”, relembra Duarte.
E finalizando a rota dos espetáculos assinados por Anderson Bueno, está “A Rouxinol e a Rosa”, estrelado por Glamour Garcia, primeira atriz transexual a vencer um prêmio por sua atuação, com estreia agendada para esta semana, em São Paulo. A peça teatral que promove, através da arte, a reflexão sobre o preconceito, a importância da liberdade de expressão e o direito à igualdade para a comunidade LGBTQIA+. Escrita e dirigida por Rony Guilherme Deus, o espetáculo é inspirado em conto do escritor, poeta e dramaturgo Oscar Wilde (1854-1900), símbolo da luta pelos direitos homossexuais. No elenco ainda estão Bárbara Bruno e Augusto Zacchi.