Em 1860 surgia a alta costura em Paris, num momento em que criações extravagantes e assinadas davam seus primeiros passos nas mãos de um designer nato, que cunhou o termo “haute couture”. Charles Worth provavelmente nunca imaginou que a exclusividade que ele oferecia às suas clientes se transformaria, 161 anos depois, em moda inclusiva.
É um privilégio testemunhar encontros memoráveis entre moda arrojada e original, com diversidade e sustentabilidade. Foram estes alguns dos pontos-chave da Semana de Moda de Alta Costura em Paris, que aconteceu nos dias 25 a 28 de janeiro, entre desfiles presenciais e virtuais. Bastante eclética em relação aos conceitos apresentados, a profusão de desfiles se mostrou, de maneira geral, alinhada com o espírito de nossos tempos: Viktor & Rolf reutilizaram peças, dentro da atividade atual de upcycling: a ressignificação criativa de materiais. A grife Valentino destacou a equipe de confecção que desenvolveu cada vestido do desfile; A-Z Factory trouxe para a passarela mulheres acima do peso padrão e também da terceira idade; Rahul Mishra utilizou tecidos biodegradáveis e Schiaparelli manteve a sua inclinação em extrapolar os limites tradicionais de uma roupa, incentivando a individualidade e autoafirmação – isso tudo para citar apenas algumas das marcas participantes que, acima da intenção de apresentar suas coleções de vestuário de luxo, estão preocupadas em se atualizar com os movimentos globais.
Sem dúvida o objetivo prioritário do mundo fashion nas próximas décadas será essa associação entre design criativo e práticas corretas em toda a cadeia de produção de uma peça de roupa: de tecidos sustentáveis à admiração e pagamento justo para quem pratica a atividade corriqueira de manusear uma máquina de costura. Além, é claro, de respeito ao cliente final, com amplitude de modelagens e abarcando coleções com estratégia diversificada de lançamento, ou seja, com inclusão de gêneros e em modelos de todos os tipos físicos, idades e raças – um salto extraordinário e em desencontro com as origens da alta-moda.
O início da Alta Costura
Foi um artesão das linhas e agulhas com uma mente inventiva e essência empreendedora quem padronizou a atividade da vestimenta de luxo em meados do século XIX em Paris, criando o termo “haute couture”, ou seja, alta costura. Charles Frederick Worth era um inglês que se estabeleceu na capital francesa como um criador de moda, projetando formas e estilos para suas clientes vestirem – em contraposição com o costume até então das próprias mulheres montarem os seus vestidos, sozinhas ou com suas costureiras habituais. Foi ele também quem decidiu apresentar coleções completas de trajes para que a sociedade parisiense pudesse escolher entre uma variedade de opções. Por conta desta grande contribuição para a indústria da moda, Worth é considerado o “pai da Alta Costura”.
Respeitado pelo seu envolvimento numa atividade em franca expansão na Europa, é bem provável que nos dias atuais o estilista da realeza e nobreza da época das anáguas, espartilhos e excesso de ornamentos iria se revirar no caixão com o tanto de licenças que a moda vem absorvendo ultimamente. Novos tempos em que a comunidade tem mais valia do que a opulência de um vestido.