‘A Rota Selvagem’ traz jornada de amadurecimento através da solidão

Com 17 anos durante as gravações, atuação de Charlie Plummer impressiona
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19.11.2018

Divulgação / Reprodução

Um dos aspectos mais interessantes de ‘A Rota Selvagem’ é se aprofundar numa faceta raramente explorada pelo cinema comercial norte-americano: o lado oposto ao estilo de vida idealizado por Hollywood. Talvez porque, embora gravada e ambientada no interior dos EUA, seja, na verdade, uma produção britânica.

Apesar de se basear no livro do americano Willy Vlautin (‘Lean on Pete’), o roteiro e direção do inglês Andrew Haigh (de ’45 Anos’, 2015) permite um olhar mais humano e atento sobre moradores de rua da região, e os mecanismos que os levam a subempregos que lhes permitem pouco mais do que subsistir.

Contudo, isso se dá já na parte final do filme, que se apresenta quase como um curta-metragem independente, cuja ligação direta com o longa que o precede está basicamente na presença do mesmo protagonista – aliás, admirável atuação de Charlie Plummer, então com apenas 17 anos durante as gravações. Ou seja, parece controverso, mas uma das forças inegáveis de ‘A Rota Selvagem’ insere-se dentro de seu principal deslize: a falta de uma transição menos abrupta para o ato final. Ou que o ato imediatamente anterior fosse menos conclusivo por si só. Ou menos extenso, o que já amenizaria seu efeito terminal. Todavia, veremos abaixo, há coisas boas ali também.

Charlie Plummer

E o que vem antes? Charley (Charlie Plummer) tem 15 anos e mora apenas com o pai no noroeste norte-americano. Já não se lembra da mãe, e há anos não vê sua tia Margy, figura materna mais próxima, que mora em outro estado e tem relação estremecida com o irmão, Ray (Travis Fimmel, da série ‘Vikings’), pai de Charley.

Recém-chegados ao lugar, o garoto não tem amigos e tampouco condições de criar laços afetivos entre ele e as sucessivas namoradas que o pai arruma. Impossibilitado até mesmo de frequentar a escola, devido ao período letivo já em curso, seu passatempo é correr pela região. É assim que encontra uma pista para cavalos, onde conhece Del (o sempre ótimo Steve Buscemi), um veterano treinador de eqüinos que oferece a Charley um bico como ajudante. Na companhia da jóquei Bonnie (Chloë Sevigny, de ‘Amor & Amizade’, 2016), os três partem em pequenas viagens disputando páreos pelos hipódromos da região.

filme a rota selvagem

Não demora para o jovem se apegar a Lean on Pete, um dos cavalos mais antigos de Del, e que já apresenta dificuldades para correr em alto nível. Por isso, o treinador precisa vender Pete, algo corriqueiro no ramo. Charley, que a essa altura já não pode contar com o pai, severamente hospitalizado, se vê angustiado pela possibilidade de perder o companheiro eqüino. É então que começa a solitária jornada entre ele e o cavalo.

Enquanto busca reencontrar a tia antes de ser detido pelo conselho tutelar, Charley quer, também, poupar o animal de possíveis maus tratos nas mãos de outro dono. Eles se espelham: ambos rejeitados, ambos corredores, e correr é o que lhes resta. Tudo sob uma fotografia que simbolicamente valoriza a paisagem em momentos de crepúsculo – Lean on Pete vive seu ocaso. Mas nada de artifícios que induzam ao melodrama. A trilha sonora musical é discreta, quase inexistente.

A Rota Selvagem

Numa visão geral, o que fica é um relato seco, direto, sobre a solidão que assola a juventude contemporânea, e o amadurecimento forçado de personalidade a que ela leva, para o bem e para o mal. Ao menos no atual modelo da sociedade ocidental, moralmente decadente, onde as relações crescentemente se baseiam mais na efemeridade dos benefícios mútuos proporcionados – com consequentes descartes. Pobre de nós, meros cavalos de corrida.

A Rota Selvagem (Lean on Pete) – Reino Unido, 121 min, 2017. Dir.: Andrew Haigh – Estreou em 15/11. Assista o trailer:

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