“O CASO MEINHOF” CONTA A TRAJETÓRIA DA GUERRILHEIRA ALEMÃ ULRIKE MEINHOF

A PEÇA TRANSFORMOU A HISTÓRIA DE VIDA DA TERRORISTA EM UM PODCAST NO GALPÃO DO FOLIAS, EM SÃO PAULO
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30.08.2022

Renan Marcondes

De 9 a 25 de setembro, estreia no Galpão do Folias, o espetáculo “O Caso Meinhof”, montagem do Teatro do Fim do Mundo livremente inspirada no texto Ulrike Maria Stuart, da ganhadora do Nobel de literatura Elfriede Jelinek. A partir da história da RAF, grupo terrorista alemão dos anos 70 (com as mulheres Ulrike Meinhof e Gudrun Ensslin na liderança), a peça discute o fracasso e a herança dos movimentos revolucionários do século XX, além de debater a presença das mulheres na liderança de processos políticos, entre outros temas que se mostram urgentes no Brasil de hoje.

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Ulrike Maria Stuart é com frequência considerada a mais importante peça de Elfriede Jelinek, autora fundamental para a dramaturgia contemporânea, apesar de sua obra ainda ser pouquíssimo encenada no Brasil. Foi a primeira lançada após ela ser premiada com o Nobel em 2004.  

Ao tratar de temas fundamentais para pensar o tempo em que vivemos – o aparente fracasso dos projetos revolucionários, o perigo da violência autoritária por parte de quem deseja mudar o mundo, e ao mesmo tempo a impossibilidade de se conformar a uma ideia de que o mundo não pode ser transformado – a peça se faz urgente em um contexto brasileiro de crise profunda, em que a imaginação política se vê travada pelo peso excessivo dos vícios históricos do país. 

Para narrar essa história, o grupo transformou a trajetória de vida da terrorista Ulrike Meinhof em um podcast, apresentado em cena pelos filhos da guerrilheira, vividos por Artur Kon e Mariana Otero. A história se divide em três episódios: todas as noites, o elenco – completado por Carla Massa, Clayton Mariano, Maria Tendlau e Marilene Grama – apresenta três programas de 50 minutos cada. O público pode ver os episódios de maneira independente ou assistir um espetáculo de quase 3 horas numa noite, com dois intervalos. 

Mas a peça também pode ser lida como uma disputa entre três figuras – um pai, uma mãe e a rival desta – pela influência sobre os filhos do casal. Essa trama aparentemente banal, digna de um drama familiar, é na verdade metáfora para os rumos da esquerda no fim do século XX e início do XXI. E o grupo parte desse conflito de gerações para criar uma proposta de encenação. Para tal, reuniram duas gerações de artistas de teatro, materializando assim a disputa travada na peça.

De um lado, Clayton Mariano e Maria Tendlau representam os pais, ao mesmo tempo que dirigem o espetáculo; os dois fazem parte da geração de artistas de teatro que se engajou na luta por políticas públicas para a cultura, dando origem à Lei de Fomento ao Teatro e a programas como o Vocacional, por exemplo. Marilene Grama, mais jovem, representa Gudrun Ensslin, companheira e rival de Ulrike. Já Artur Kon e Mariana Otero encarnam os filhos do casal, representando a mais nova geração de artistas, que busca refazer a luta da geração anterior, mas em um contexto bastante transformado. 

O espetáculo parte de um fato curioso: os quatro principais integrantes da RAF (ou Grupo Baader-Meinhof) tiveram seus cérebros retirados para estudos após a morte na prisão. Houve inclusive quem afirmasse que uma lesão no de Ulrike teria sido responsável pelo comportamento violento e consequentemente sua atividade de terrorista. Só décadas depois a filha (já adulta) de Meinhof conseguiu na justiça reaver e enterrar o cérebro da mãe; nessa ocasião, descobriu-se que os três outros haviam desaparecido misteriosamente.

A partir desses estranhos fatos, a peça do Teatro do Fim do Mundo inventa o misterioso roubo do cérebro de Ulrike: na verdade os próprios filhos dela teriam se reapossado do encéfalo preservado em um vidro, para tentar se comunicar com ele. Então, na casa de seu pai reacionário (onde moram desde que ela entrou para a clandestinidade), fazem um podcast para investigar a verdade sobre a morte da mãe. A cada episódio confrontam um entrevistado envolvido na história, mesmo que para isso precisem buscar meios pouco convencionais de comunicação, inclusive com os mortos.

SERVIÇO

Espetáculo “O Caso Meinhof”

Onde: Galpão Folias

Endereço: Rua Ana Cintra, 213, Santa Cecilia – SP

Quando: 9 a 25 de setembro

Horário: sexta, sábado e domingo às 19h

Quanto: R$ 20 (uma sessão) R$ 40 (três sessões)

Classificação etária: 14 anos

Duração: 50 minutos

Informações: através do site

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