BALÉ DA CIDADE DE SÃO PAULO APRESENTA OBRAS DE JOHN CAGE E FRANZ SCHUBERT COM COREOGRAFIAS INÉDITAS

“SIXTY-EIGHT” E “INACABADA” UNEM EXPERIMENTALISMO E MISTÉRIOS NO THETARO MUNICIPAL DE SÃO PAULO
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27.08.2022

Stig de Lavor

A dança é o principal foco das apresentações do Theatro Municipal de São Paulo no mês de setembro. E as razões não poderiam ser melhores: o brasileiro Alejandro Ahmed, conhecido por seu trabalho à frente da Cena 11 Cia. de Dança, apresenta uma coreografia que desafia espectadores e bailarinos ao interpretarem a música “Sixty-Eight”, de John Cage, enquanto o inglês Ihsan Rustem traz um trabalho cheio de mistério e poesia para a bela sinfonia “Inacabada”, de Schubert. Duas obras separadas em pelo menos um século desde que foram executadas pela primeira vez e que serão regidas pelo maestro Alessandro Sangiorgi.

“É uma alegria trazer a expertise e competência de coreógrafos como Alejandro Ahmed e Ihsan Rustem, com seus trabalhos consolidados tanto no que concerne às suas propostas artísticas, quanto às suas experiências”, diz Andrea Caruso Saturnino, diretora-geral do Complexo Theatro Municipal. 

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“Alejandro Ahmed tem um trabalho absolutamente marcante e estamos lisonjeados com esse intercâmbio com o Balé da Cidade”, afirma Cassi Abranches, diretora artística da companhia de dança do Theatro Municipal. No caso de Ihsan Rustem, desde “Deranged”, do austríaco Chris Haring, em 2018, o Balé não se unia a um coreógrafo internacional. “Ihsan, que também atuou como bailarino em algumas das maiores companhias do mundo, conhecia o trabalho do Balé da Cidade e ficou feliz com o convite para coreografar a ‘Inacabada’, que será a sua segunda coreografia na América Latina”, completa Cassi Abranches

O maestro responsável pela regência da Orquestra Sinfônica Municipal, Alessandro Sangiorgi, reforça como são especiais as escolhas musicais do programa: “É sempre um privilégio e uma alegria reger a ‘Inacabada’ de Schubert, uma das pérolas do repertório sinfônico”, afirma. Franz Schubert faleceu aos 31 anos e deixou essa sinfonia, como seu próprio nome assinala, sem conclusão. Sua primeira apresentação com uma orquestra aconteceu somente 43 anos depois de sua escrita e é a primeira criação em solo nacional assinada por Rustem

Impermanência e mistério são alguns dos aspectos que povoam os intrincados e intrigantes movimentos dos 15 bailarinos em cena. A ideia tão humana do que não foi finalizado, do que não foi dito e até mesmo do que não permanece perpassa as diferentes situações apresentadas na coreografia, cuja criação contou com processos dos bailarinos explorando situações pessoais vividas relacionadas ao tema do inacabado e do impermanente, que remetem a finais e perdas. Na tônica da coreografia, movimentos exploram ao máximo a fisicalidade musical de Schubert. “Eu gosto de ver a música nos dançarinos”, resume Rustem, que explora ainda a parceria intrincada e possibilidades teatrais em cena. Figurinos inspirados nos séculos XIX e XX se apresentam muitas vezes incompletos, numa leitura contemporânea dos trajes de época assinados por Cassiano Grandi. A iluminação fica a cargo de Caetano Vilela

“Sixty-Eight” é uma obra musical escrita por John Cage no início da década de 1990, uma obra sem uma proposição inicial explícita de ser trazida ao universo da dança. O maestro Sangiorgi explica: “É uma obra na qual a indeterminação é a palavra-chave. Trata-se de uma sequência de 15 notas, cada uma delas durando entre zero e dois minutos. E essas notas, qualquer que seja o músico designado a tocar, têm uma variação de quando começam e quando terminam, contanto que se obedeça a orientação de tempo desejada pela partitura. Ou seja: temos notas com texturas diferentes provocando alguma harmonia, já que a cronometragem as encavala umas com as outras. Numa obra como essa, juntar música e dança dá uma dimensão muito diferente e especial”

Ahmed complementa: “É uma coreografia que se auto-organiza através de um consenso de restrições que a gente estabelece e que faz com que as possibilidades não sejam simplesmente pré-determinadas pela autoridade do coreógrafo”, explica Ahmed, que trabalha pela primeira vez com a companhia de dança do Theatro Municipal. “Ela aborda o atravessamento das liberdades de escolha vinculadas a um consenso coreográfico comum que a gente estabeleceu, suscitando reflexões sobre a coletividade. É como um objeto que você reconhece o que é, mas está sempre em transformação”, afirma. 

No trabalho coreográfico, 12 bailarinos em cena se distribuem em rampas, executando livremente uma partitura ou jogo matemático de regras a partir de um metrônomo-luminoso criado pelo artista Diego de Los Campos. Esse metrônomo, que cria compassos de entradas e saídas dos bailarinos em cena, está programado de acordo com um sistema digital. Dessa forma, há certa randomicidade, que resulta numa obra artística única a cada dia, e reflete sobre os conceitos de autonomia e coletividade. 

Os figurinos são assinados por Karin Serafin com a assistência de Juliana Laurindo. Por vezes com o uso de máscaras, por vezes com a ausência total de qualquer adereço, são apresentadas possibilidades de extensão tecnológica e biocultural da roupa – adereço que protege, mas, também, transforma a percepção do movimento. A iluminação é de Mirela Brandi.

SERVIÇO

Balé da Cidade de São Paulo

Onde: Theatro Municipal de São Paulo

Endereço: Praça Ramos de Azevedo, s/n, Anhangabaú – SP

Quando: 2, 3, 4, 7, 8, 9, 10 e 11 de setembro

Horário: 2, 8 e 9 (20h) – 3, 4, 7, 10 e 11 (17h)  

Quanto: R$ 10 a R$ 80

Classificação etária: 18 anos

Duração: 60 minutos

Informações: (11) 3053-2080 ou através do site

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