“Posso copiar? Pode, só não faz igual”. Esse diálogo acompanha um dos memes que tem viralizado na internet nos últimos dias, e descreve perfeitamente a relação entre ‘Wheely – Velozes e Divertidos’ e sua descarada inspiração na trilogia ‘Carros’ (2006/2011/2017), da Disney/Pixar.
A estratégia vampiresca é prática antiga. Quem viveu a era das fitas VHS deve lembrar de pérolas como ‘Leo, O Rei Leão’ (1994), lançado poucos meses depois da arrebatadora animação da Disney. O incomum é que esses arremedos cheguem às telas de cinema. Normalmente vão direto para o mercado doméstico, onde até conseguem desempenho razoável de vendas. ‘Wheely’, coprodução encabeçada pela Malásia, contraria essa tendência e acaba de estrear em solo brasileiro, com previsão de lançamento em cinemas de alguns países europeus também.
Talvez porque visualmente, levando-se em conta o orçamento muito inferior, o resultado não difere tanto das grandes animações norte-americanas. Fato, também, é que agrada minimamente os pequenos espectadores. O problema é o tédio a que os pais e responsáveis são submetidos.
Assim como em ‘Carros’, o personagem-título disputa corridas profissionalmente. Após sofrer um grave acidente, Wheely é obrigado a se afastar das competições. Os dias de sucesso ficam para trás e ele passa a ser um resignado taxista, sempre sonhando em voltar a correr. Além de sua mãe, quem não deixa de apoiá-lo é Putt Putt, um antigo fã, de fala simples, gestos humildes e coração generoso – o equivalente ao personagem Mate na franquia da Disney. Alguns acasos colocam Wheely em contato com Bella, estrela da TV local. E o enredo passa a girar entre esse conto de princesa e plebeu, e a busca pelos responsáveis que estão raptando carros para revenda de suas peças no mercado negro.
A parte do “só não faz igual” se revela fundamentalmente na infantilidade e fragilidade do roteiro. Por exemplo, fica a dúvida sobre o que faz exatamente um táxi num mundo onde só existem automóveis. Serve apenas como um guia? Fica no ar. E quanto ao telefone celular? Por sinal, objeto de grande importância na trama. Estranho ver os personagens segurando o aparelho com uma das rodas, como que colocando em suas orelhas, e na cena seguinte o chefe de Wheely se comunicar com ele, aparentemente, por rádio integrado ao carro. Não faria mais sentido que todos tivessem telefones incorporados em seu interior?
Além disso, em ‘Wheely’ quase inexiste os gracejos destinados a adultos que, digamos, ‘Meu Malvado Favorito’ (2010/2013/2017) e sobretudo ‘Shrek’ (2001/2004/2007/2010) contém. Da mesma forma, é desprovido da profundidade filosófica-existencial de obras-primas da Pixar, como ‘Wall-E’ (2008) e ‘Up: Altas Aventuras’ (2009). Sobram a divertida referência a Hannibal Lecter, personagem eternizado por Anthony Hopkins em O Silêncio dos Inocentes (1991) e a inusitada sátira de ‘Star Wars’.
Pode tapear as crianças (nada garantido, aliás), mas é muito pouco para uma produção que se apoia tão claramente em títulos marcantes do gênero.
Wheely – Velozes e Divertidos (Wheely) – Malásia/Maldivas/Brunei/Djibuti, 90 min, 2018 – Dir.: Yusry Abd Halim – Estreou em 6/9. Assista ao trailer: