ESCRITA EM 1973 POR GIANFRANCESCO GUARNIERI, DURANTE A DITADURA MILITAR, “UM GRITO PARADO NO AR” ESTREIA NO SESC BOM RETIRO

A PEÇA ESTREIA EM 17 DE JANEIRO DE 2025, SOB DIREÇÃO DE ROGÉRIO TARIFA E MONTAGEM DO GRUPO TEATRO DO OSSO
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23.12.2024

Maurício Bertoni

Uma nova versão de “Um Grito Parado no Ar”, clássico de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), estreia no dia 17 de janeiro no Sesc Bom Retiro, em São Paulo. Sob a direção de Rogério Tarifa e montagem do grupo Teatro do Osso, a obra revisita a icônica peça que reflete sobre os desafios da criação artística em tempos de censura e repressão. A dramaturgia, atualizada por Jonathan SilvaRogério Tarifa e o Teatro do Osso, dialoga com o contexto contemporâneo, enquanto a encenação preserva o caráter crítico e metateatral que marcou a história do teatro brasileiro.

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Gianfrancesco Guarnieri foi ator, diretor, dramaturgo e poeta italiano naturalizado brasileiro. Figura central do Teatro de Arena de São Paulo, Guarnieri marcou a dramaturgia nacional com textos que abordavam questões sociais e políticas. Entre suas obras mais significativas está “Eles Não Usam Black Tie”, reconhecida como um marco do teatro brasileiro.

Escrito em 1973, durante a ditadura militar brasileira, “Um Grito Parado no Ar” se destacou por expor os desafios de se fazer arte em um contexto de repressão. Na adaptação de Tarifa, a obra preserva sua essência crítica e amplia o diálogo com o presente, conectando as questões sociais da época em que foi escrita, aos desafios culturais contemporâneos.

A narrativa acompanha um grupo de artistas que ensaia uma peça a dez dias de sua estreia. Enquanto pressões externas, como dívidas e restrições financeiras, ameaçam o andamento da produção, a trama reflete a precariedade e a persistência da arte em tempos complexos. Com improvisações baseadas em relatos reais de moradores da cidade, o espetáculo revela as tensões sociais e econômicas que permeiam o cotidiano, reafirmando o teatro como espaço de resistência e transformação.

O ato-espetáculo musical conta com a participação da atriz convidada Dulce Muniz, que interpreta a personagem Flora. O diretor Rogério Tarifa destaca que Dulce fez parte do Teatro Arena e da história do teatro brasileiro. O grupo costuma trabalhar com depoimentos de pessoas, e Dulce traz um olhar especial por ter vivenciado as duas épocas, 1973 e a atual.

“O espetáculo surgiu da colaboração entre meu trabalho e o Teatro do Osso, a partir de uma pesquisa sobre o Teatro Épico no Brasil, inspirada nas obras de Guarnieri. Realizamos um estudo aprofundado sobre esse período, coletando referências e realizando entrevistas com artistas da época. Fomos ao Rio de Janeiro e conversamos com Othon Bastos e Sonia Loureiro. Assim, a montagem representa um encontro entre a companhia Teatro do Osso e um Grito Parado no Ar, unindo características de 1973 e da atualidade, estabelecendo diálogos entre esses dois momentos”, comenta Tarifa.

A direção musical de William Guedes conta com músicas originais compostas por Jonathan Silva criadas especialmente para o espetáculo, enriquecendo a experiência e a conexão com o público. “Essa abordagem envolve algumas características essenciais, como a dramaturgia coletiva, a música ao vivo e as composições criadas especialmente para o espetáculo. Na nossa montagem, embora o texto tenha origem na dramaturgia de Guarnieri, incorporamos também toda a pesquisa necessária para a construção do espetáculo e desses elementos”, explica Tarifa.

Uma exposição virtual estará em exibição durante toda a temporada. “Do Canto ao Grito – Um Estudo sobre o Teatro Épico no Brasil”, reúne músicas, vídeos, documentos históricos e materiais desenvolvidos ao longo do processo criativo. A mostra enriquece a experiência do espetáculo ao ampliar debates sobre temas como censura, violência e desigualdade, reafirmando a relevância da obra de Guarnieri no diálogo entre passado e presente da sociedade brasileira.

“As pesquisas duraram seis anos, buscando compreender a prática artística contemporânea em relação à montagem de 1973. Quando ouvimos pela primeira vez o nome ‘Um Grito Parado no Ar’, isso nos provocou uma reflexão profunda. Quais gritos estão parados no ar? Seriam gritos negativos ou violentos? O título criado por Guarnieri é muito preciso e realmente convida à reflexão”, reflete Tarifa.

Junto ao elenco atua um coro, formado por oito integrantes, reunidos em cena como personificação da multiplicidade de experiências pessoais, éticas, estéticas e políticas. A proposta é trazer a pluralidade de vozes e experiências para contar o que é fazer teatro em 2025, numa convivência entre atrizes, atores e não atores, diferentes gerações, classes sociais, imigrantes, pessoas cis e pessoas trans.

A obra estreou há 52 anos, em um período de forte repressão política, e tornou-se um símbolo da resistência cultural. A frase “Nós vamos estrear nem que seja na marra!”, dita pelo personagem Fernando, ecoava como um manifesto dos artistas contra a censura. Hoje, o Teatro do Osso traz essa força para os palcos, reafirmando a importância do teatro como ferramenta de questionamento e crítica social.

Debate
Na quarta-feira, dia 12 de fevereiro, às 19h, acontece no teatro do Sesc Bom Retiro o debate “Um Grito Parado no Ar de 1973 a 2025”, com entrada gratuita. Na ocasião, Sônia Loureiro, atriz da montagem de 1973, se encontra com Renato Borghi, ator que junto a José Celso Martinez Corrêa e Amir Haddad fundou o Teatro Oficina em 1958, e Dulce Muniz, atriz do Teatro de Arena, para falar da montagem de 73, assim como da versão contemporânea, realizada pelo Teatro do Osso, 52 anos após a montagem original. Falam também sobre teatro, representatividade, história e ditadura.

SERVIÇO

Peça “Um Grito Parado no Ar”

Onde: Sesc Bom Retiro

Endereço: Alameda Nothmann, 185, Bom Retiro – São Paulo

Quando: 17 de janeiro de 2025 a 16 de fevereiro

Horário: sexta e sábado às 19h30 e domingo e feriado às 18h

Quanto: R$ 60 (inteira) R$ 30 (meia)

Classificação etária: 14 anos

Duração: 2h30

Informações: (11) 3332-3600 ou através do site

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